terça-feira, 21 de maio de 2024

UM CACHORRO QUENTE GENEAL

por Ediel Ribeiro


Rio - Outro dia, cheguei em São Paulo cheio de fome. As companhias aéreas, hoje, só servem água e biscoito. E olhe lá.

Antes de fazer o check-in, parei em uma pracinha, em frente ao hotel, e pedi um cachorro quente e uma cerveja.

- “Completão”? - perguntou o dono da barraca.

- Acho que sim - respondi.

Não era exagero, era ‘completão’ mesmo. O homem colocou no meu cachorro-quente tudo o que você possa imaginar. Inclusive, pasmem, purê de batata.

E provando que ‘completão’ não é apenas o nome do cachorro-quente paulistano, além do purê de batata, o sanduíche veio ainda com ervilha, milho cozido, ovo de codorna, queijo parmesão, cheddar, molho de tomate com carne moída, cenoura ralada, bacon, catupiry, vinagrete e até frango desfiado.

Falta só o anti-ácido, pensei.

Carioca, logo percebi que o "Tudão", nada tinha a ver com o simples e gostoso cachorro-quente ‘Geneal’, servido nas praias do Rio. Tem muita gente que não gosta, afinal é só um pão macio, salsicha e mostarda.

Mas foi com essa deliciosa combinação que, na década de 60, o cachorro-quente ‘Geneal’ entrou na vida e no coração dos cariocas, marcando várias gerações. O sanduíche foi criado na década de 1960 pelo empreendedor Aloísio Neiva, que queria levar lanches a pontos de grande fluxo da cidade, como festivais de música, nos jogos de futebol e pelas praias da Zona Sul.

Onde tinha gente, lá estavam as carrocinhas de toldo branco com listras azuis. No Maracanã, um dos cartões postais do Rio, até hoje é certo encontrar os ambulantes credenciados, vestidos de branco.

Quem cresceu no Rio de Janeiro certamente viveu uma dessas experiências. Guardado na memória afetiva de pelo menos duas gerações de cariocas, o tradicional cachorro-quente com apenas pão, salsicha e o molho de mostarda da Geneal completou, recentemente, 50 anos.
 
O sucesso começou com as charmosas carrocinhas. Logo depois, a empresa passou a usar ‘romisetas’, uns carrinhos minúsculos que puxavam a carrocinha da marca. A simplicidade do lanche conquistou legiões de fãs, que se seguiu nas décadas seguintes.
 
A história da GeneaL começou em 1963, na areia das praias cariocas, quando o pão fresquinho – receita exclusiva, guardada a sete chaves há meio século – com salsicha e mostarda se tornou o lanche preferido dos frequentadores de Ipanema, Copacabana, além da Lagoa Rodrigo de Freitas, Maracanã e Circo Voador. As carrocinhas de toldo colorido estavam presentes nos pontos mais badalados da cidade, sempre acompanhando o estilo de vida dos cariocas.

Na década de 80 a marca é comprada pela Brahma e acabou saindo de circulação, deixando os moradores da cidade saudosos. Já nos anos 90, a empresa Wal adquiriu a Geneal para usá-la em lojas de conveniência de postos de gasolina, mas, infelizmente, a marca não teve grande destaque.

Nos anos 2000, como a marca estava apagada, Dimas Corrêa Filho, um ex-funcionário da Wal, viu uma oportunidade de comprar a empresa e retomar o formato original e resgatar a marca de alma carioca e sabor inconfundível. Começando pelas receitas, o empresário foi em busca do primeiro padeiro da GeneaL para resgatar o sabor e a receita original do pão que tornou a marca um símbolo carioca.

Dimas revitalizou o negócio, expandiu os formatos e implementou um sistema de parcerias com estabelecimentos para vender seus produtos, além de ambulantes credenciados e uniformizados nas orlas do Rio e quiosques.

Hoje são diversas lojas espalhadas por toda a cidade, com uma identidade nostálgica e charmosa, que mantém características do visual original

Depois de 40 anos de ausência da avenida, em 2014 o Geneal, que já havia voltado recentemente ao Maracanã e às praias cariocas, voltou novamente à venda na Marquês de Sapucaí. Além do Sambodromo, a iguaria está presente também no Rock in Rio; no Fashion Rio, no UFC, no Fashion Business e na Rio+20, fechando o ciclo de retorno do sanduíche aos principais templos de diversão do carioca.

Uma marca 100% carioca, o cachorro-quente Geneal, junto com o Biscoito Globo e o Mate Leão, transformaram-se na Santíssima Trindade das iguarias cariocas.

*Ediel Ribeiro é jornalista, cartunista e escritor.

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