sexta-feira, 17 de maio de 2024

CLÁUDIO VIEIRA E O ROMANCE POLICIAL






por Ediel Ribeiro

Rio - Mesmo antes de escrever para O Dia, eu já era fã do jornal.

Gostava do jornalismo popular e do tom debochado e bem humorado da coluna “O Avesso da Vida”, escrita pelo cronista Léo Montenegro.

A coluna foi criada em 1965, por Thassilo Mitke, cuja fórmula foi inspirada nas crônicas de “A Vida como ela é”, de Nelson Rodrigues, publicada no jornal carioca “Última Hora”, de 1950 a 1961. Léo Montenegro escreveu “O Avesso da Vida” por 37 anos, ininterruptos, até sua morte, em 5 de julho de 2003. 

Thassilo, então editor-chefe, queria criar no jornal um jornalismo popular  e impôs essa linha como orientação para sua equipe de repórteres, redatores, colunistas, cronistas e editores. Seguindo esta linha, Mitke foi pescar no quadro de repórteres de O DIA , em meados de 1985, o repórter Cláudio Vieira e o encarregou de escrever a coluna ‘Romance Policial’, que iria mesclar casos verídicos acontecidos pelo Brasil afora e episódios criados pela mente atenta do autor.

Cláudio Vieira criou e adaptou 8 mil histórias para sua coluna diária, por 25 anos. A identidade do leitor com a crônica era muito grande. Numa época em que não havia internet , muita gente telefonava para contar os casos vistos na rua, no trabalho e até mesmo no ambiente doméstico.

“Eles davam sugestões, enviavam cartas e ficavam irritados quando eu deixava de satirizar alguma coisa que acontecera na véspera. Telefonavam reclamando. Outros que se queixavam muito eram os portugueses. E me xingavam. Teve um que disse: ‘Se o teu sobrenome é Vieira é porque tens sangue português nas veias, ó. Portanto, és um!’ Adoro portugueses, mas não posso perder a piada. Faz parte”, dizia o cronista.

Cláudio Vieira trabalhou durante anos em O DIA, além de ter também atuado na Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa).  Vieira era também roteirista e escritor, autor do livro “Maracanã - Templo dos Deuses Brasileiros (2000) com histórias e imagens do famoso estádio.

O jornalista foi responsável pelo site da Liesa durante mais de duas décadas. Ele também chegou a atuar como assessor de imprensa da entidade. No início dos anos 2000 criou e editou a revista 'Ensaio Geral', produzida pela Liesa e distribuída gratuitamente ao público na Sapucaí.

Cláudio também escreveu sinopses de enredos para Portela e foi responsável pela pesquisa e desenvolvimento da sinopse de três carnavais da Imperatriz, nos anos de 2015, 2016 e 2017.

 "Com seu apoio profissional de enorme valor, levamos para a Marquês de Sapucaí os enredos "Axé Nkenda! Um Ritual de Liberdade", "É o Amor... Que mexe com minha cabeça e me deixa assim... - Do sonho de um caipira nascem os Filhos do Brasil" e "Xingu, o clamor que vem da floresta!", disse um porta-voz da Escola.

Cláudio era um apaixonado por samba e Carnaval. Em 2001, a cantora e compositora Leci Brandão contou que se inspirou em uma história narrada por Cláudio Vieira para escrever a música “Zé do Caroço”.

De acordo com Leci Brandão, a composição da música 'Zé do Caroço', se deu a partir de um relato feito por Cláudio Vieira a ela. A ideia de fazer a canção veio após conhecer a história do líder comunitário homônimo que tinha forte atuação no Morro do Pau da Bandeira, em Vila Isabel. "Eu estava dirigindo e escrevi da Vila Isabel até a Tijuca. Ele é de 1978, mas foi gravado apenas em 1985", contou.  


Cláudio Vieira morreu nesta quinta-feira, aos 70 anos. O jornalista será sepultado na manhã desta sexta-feira (17), no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio. O velório acontece na capela G, a partir das 9h, e o sepultamento será às 11h.

Através das redes sociais, a filha do jornalista, Roberta Queiroz, apontou o pai como "um homem apaixonado, dedicado e talentoso." "Você nunca será esquecido, pai", finalizou.

*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor.







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