VERÍSSIMO, UM ÍDOLO
por Ediel Ribeiro
Rio - Sou fã do Luis Fernando Veríssimo. Fã mesmo. De pedir autógrafo, tirar foto e copiar, descaradamente.
Ironicamente, quem sempre lidou com as palavras começou a apanhar delas. “As palavras escapam. Não consegue mais escrever, mas ainda lê lentamente” - revelou Lúcia, sua companheira de 62 anos.
Veríssimo enfrenta as limitações do Parkinson e as sequelas de um AVC sofrido em 2021, que atingiu a parte cognitiva e o levou a uma internação prolongada, além de usar um marcapasso desde 2012 e lidar com lombalgia que reduz sua mobilidade.
Além da dificuldade de escrita, Veríssimo também parou de desenhar e tocar saxofone, outros de seus talentos. Apesar dessas limitações, ele continua acompanhando o seu time de coração, o Internacional, e aprecia atividades como ouvir música e jogar paciência no computador.
Veríssimo quase não sai mais da casa que herdou do pai, Érico Veríssimo, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, onde vive com o filho Pedro, os netos e a esposa Lúcia Helena Massa, com quem é casado desde 1963.
O escritor nasceu em Porto Alegre, no dia 26 de setembro de 1936. Morou nos Estados Unidos e no Rio de Janeiro, onde conheceu Lúcia. O criador do Analista de Bagé, tem uma única irmã, Clarissa – nome de um dos romances mais famosos do seu pai, Érico.
Escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista, dramaturgo e romancista, Veríssimo, com mais de 80 livros publicados, já escreveu para jornais como ‘Folha da Manhã’, ‘Zero Hora’, ‘Estadão’, ‘O Globo’ entre outros.
Em 1995, intelectuais brasileiros convidados pelo caderno “Ideias” do Jornal do Brasil elegeram Luís Fernando Veríssimo o Homem de Ideias do ano. A esta seguiram-se outras homenagens: “Medalha de Resistência Chico Mendes”, da ONG Tortura Nunca Mais; “Medalha do Mérito Pedro Ernesto”, da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro; “Prêmio Formador de Opinião”, da Associação Brasileira de Empresas de Relações Públicas; “Prêmio Juca Pato”, da União Brasileira de Escritores como o Intelectual do ano; “Prêmio Multicultural Estadão” e, em 2004, na França, recebeu o ‘Prix Deux Océans’, do Festival de Culturas Latinas, de Biarritz.
Lacônico, uma de suas maiores características – o silêncio, a timidez são outras - Veríssimo disse em uma entrevista para o ‘Brasil de Fato Humor’, realizado em parceria com a ‘Grafar’, em 2020: “Nunca fui muito íntimo de mim mesmo, nunca examinei o que eu fiz, o que eu deixo de fazer”.
Comecei em jornal fazendo de tudo. Escrevia, ilustrava, fazia cartuns, charges, tiras. Um dia, li que quando começou no jornalismo, Veríssimo também fazia de tudo na redação, até horóscopo.
Meio preguiçoso - como eu -, para ganhar tempo, ele usava a mesma previsão. O touro de hoje era o leão de amanhã. “Porque as pessoas só leem o próprio signo. Não é possível que leiam todos os signos todo dia”, dizia.
Também com jeito para desenhar, criou ‘As Cobras’, tirinhas publicadas ainda hoje em jornais, embora não as desenhe desde 1999. “Não ficava bem um homem de 60 anos desenhando cobrinhas.”
Veríssimo, como eu, tinha que três vezes por semana mandar suas crônicas para os jornais: “O bom é que a crônica dá certa liberdade para o autor.” E a inspiração? “A gente aproveita de tudo. Tudo pode ser tema de uma crônica, até mesmo uma braguilha aberta”, conta.
Mas, até o genial Veríssimo, às vezes, ficava sem assunto. Então ele, no lugar do texto, mandava seus cartuns ou suas tiras.
Já usei desse expediente muitas vezes, aqui n` O Folha de Minas. Sem inspiração, ou tempo, às vezes preencho o espaço da coluna com frases ou poemas; qualquer dia desses, vou mandar minhas tiras, só por inveja do Veríssimo.
Boa recuperação, amigo.
*Ediel Ribeiro é jornalista, cartunista e escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário