sexta-feira, 27 de junho de 2025

BAR 28



por Ediel Ribeiro


Rio - Um dia, vou escrever um livro sobre os bares que frequentei, como fizeram o cartunista Jaguar e o escritor e compositor Moacyr Luz.


É inútil escrever sobre botecos que não existem mais, diriam os chatos e os céticos. Mas, falar sobre o Hipódromo, Aconchego Carioca, Fellini, Mosteiro, Esquimó, Baródromo e o Bar 28 - botecos que fecharam as portas - é preservar um pouco da cultura e da história boêmia da cidade do Rio de Janeiro. 


O cartunista Jaguar está no topo da lista dos cariocas que melhor descrevem a cultura do bar e do boteco, especialmente os do Rio de Janeiro. 


Frequentou todos. Ou quase todos. Como nunca li nada escrito por ele - ou pelo Moa, outro escriba de boteco - sobre o Bar 28 - antigo Café e Bar Pastoria, então, resolvi escrever sobre o boteco da Rua Barão de São Félix, 28, na Saúde, que fechou em 2015. 


Instalado na rua Barão de São Felix, 28, próximo ao Cais do Valongo, o Bar 28 foi reduto de estivadores, músicos e jornalistas. Em 2011, o bar recebeu da Prefeitura do Rio de Janeiro a placa de patrimônio cultural da cidade. 


Eu tinha um bar perto dali, O Bar Harmonia, na Praça da Harmonia, na Gamboa e, vez ou outra, passava por lá para comer o cabrito com batatas coradas, carro-chefe do bar do Seu Armandio, o simpático português, dono do boteco da Gamboa. 


A adoração ao polvo à portuguesa e o cabrito com batatas coradas - carro-chefe da casa - justificava parte de sua fama, mas não toda. Na verdade, o Bar 28, era cultuado não só pelos atributos gastronômicos, mas pelo charme e originalidade. O 28 não era um bar de “tribos” - na época, existiam a tribo da música, a das artes plásticas, a do teatro, a do cinema, a da poesia e a da azaração -, o boteco era ponto de encontro de diferentes tribos cariocas: de estivadores à artistas. 


Seu Armandio toca o negócio desde os anos 50. São dessa época, o belo balcão; a velha máquina registradora; a estante de madeira; o chão de ladrilhos. as mesas de madeira, com cadeiras típicas de bares e restaurantes cariocas da segunda metade do século XX; o antigo cartaz de tabela de preços indicando produtos como a Champanhada, T.A.B e Gracola; e no alto, a figura de São Jorge – muito comum em botequins e botecos da cidade. 


De moderno, no prédio do final do século XIX, só um ar-condicionado que substitui um velho e charmoso ventilador de teto, já sem uso, que ainda jaz por cima de nossas cabeças, bem perto de um antigo lustre com lâmpadas fluorescentes. 


O antigo Bar 28 não existe mais. Ficaram as lembranças gravadas na mente de quem teve o privilégio de conhecer o boteco e em um  documentário da rede de televisão portuguesa RTP. 


*Ediel Ribeiro é jornalista, cartunista e escritor.


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