por Ediel Ribeiro
Rio - Eu era bom no futebol de botão.
Ou ‘futebol de mesa’, como chamam, hoje, em diversas regiões do Brasil.
Meu time era o Guarani de Campinas. O Flamengo já tinha dono. Era do Wellington, um garoto ruivinho, bom de bola. Digo, de botão. O Flamengo do ‘Letinho’ era o maior rival do meu Guarani.
Meu Guarani era Tobias, Wilson Campos, Amaral, Flamarion, Bezerra e Moacir; Barnabé, Lola, Washington, Alfredo e Mingo. O Guarani de 1975.
Sem grana, eu comecei jogando com os botões dos vestidos da minha mãe e os botões da calça do meu uniforme escolar. A minha paleta era uma velha ficha de ‘poker’ feita de galalite. Os goleiros eram feitos utilizando-se caixas de fósforos com espaço para a bola (geralmente uma pastilha) entrar no gol, pelos lados e por cima do goleiro.
O campo de jogo era a mesa de jantar da cozinha da minha casa - o que provocava intermináveis interrupção do campeonato, nos horários das refeições. As traves, eram improvisadas com pedaços de madeira e restos de tecido de filó, um tipo de tecido utilizado para a confecção de ‘mosquiteiros’.
O jogo, na minha época, era jogado usando-se diversos tipos de botões e superfícies. E tinha regras específicas. O auge, na época, foi o surgimento do famoso "Estrelão", mesa de jogo sem cavaletes, produzida pela fábrica Estrela, nos anos 70.
Com o novo ‘estádio’, surgiram os botões industrializados, de plástico, com adesivos colados ao centro, contendo os escudos ou mesmo as faces dos jogadores dos times famosos do Brasil.
O futebol de botões foi inventado em 1930 pelo brasileiro Geraldo Décourt. A brincadeira de criança de Décourt, se tornaria um esporte difundido e amado por uma legião incontável de praticantes e admiradores, com sua diversidade de regras e materiais, tendo adeptos e campeonatos em um grande número de países.
O dia do nascimento de Geraldo Décourt, em 14 de fevereiro, foi oficializado pelo governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, no ano de 2001, como o "dia do botonista".
Três anos mais tarde, no Campeonato Brasileiro de 1978, o Guarani disputou a final contra o Palmeiras e acabou conquistando o título de campeão brasileiro após vencer as duas partidas. O Guarani de 1978 tinha Zé Carlos, Édson, Mauro, Miranda, Gomes e Neneca. Capitão, Renato, Careca, Zenon e Bozó.
Mas aí eu já tinha pendurado as chuteiras. Ou, no caso, as paletas.
*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor.
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