sábado, 13 de março de 2021

A CAMPANHA DE VACINAÇÃO DO PRESIDENTE


por Ediel Ribeiro

Rio - Foi de cortar o coração saber que o presidente Jair Bolsonaro ficou  triste quando soube, pela TV, que, pelo terceiro dia consecutivo, mais de duas mil pessoas morreram vítimas do Covid-19.

- Isso tudo!!? Aposto que esses números foram inventados pela Rede Globo para desestabilizar o meu governo, taokey? 

Não são, não, presidente. Deu até na TV daquele pastor amigo do senhor - disse o

secretário especial de comunicação, almirante Flávio Rocha.


Eu pensava que era só uma gripezinha - lamentou o presidente.


     Parece que depois do pronunciamento do ex-presidente Lula, o presidente Bolsonaro ficou mais sensível aos problemas enfrentados pela população com a pandemia.


Vamos comprar todas as vacinas! Onde tiver vacina, vamos comprar! Até a do

Marcos Pontes, aquele astronauta que eu botei num ministério desses daí - afirmou o presidente.


Até a da China, presidente? 


- Principalmente a da China! Como foram eles que criaram o vírus, eles devem ter o antídoto. E depois, não podemos deixar que a Coronavac caia nas mãos do Lula. Estou sabendo que o metalúrgico já está negociando a vacina com os chineses. Vamos fazer a maior campanha de vacinação da história desse país. 

 

De repente, a porta se abre e Eduardo Bolsonaro invade o gabinete do pai saltitando, alegríssimo:


Papi! Papi! Papi! - gritou, o Zero Três, eufórico.


- O que é isso, Dudu!? Recomponha-se! Se a imprensa vir você nessa alegria toda, vão pegar no meu pé. Eles já enchem o meu saco porque o Zero Dois é a cara da Tammy, aquela filha da Gretchen; e o Zero Quatro desfila no carnaval vestido de Mulher Maravilha imagina se pegam você nessa excitação toda? O que foi? Por que essa alegria toda? O Lula foi preso outra vez?


- Não, papi! Criei o cartaz da sua campanha de vacinação, veja - disse o Zero Três,

mostrando o cartaz.


- Que lindo, filho! É o Zé Gotinha! Boa idéia! Mas, Dudu, ele está segurando uma

metralhadora? - quis saber o presidente.


- Ilustra bem o seu slogan “Nossa arma é a vacina”.


- Meu garoto!! Você é um gênio! Eu sempre disse que você estava perdendo seu

tempo fritando hambúrguer nos Estados Unidos… 


- Desculpe, presidente - atalhou o secretário. - O Zé Gotinha é um

personagem infantil. Está no imaginário de milhões de crianças que, no passado, se vacinaram, incentivadas pelo Zé Gotinha. O personagem é um símbolo de vida e esperança para milhões de brasileiros e não pode ser transformado num miliciano mensageiro da morte.


- Eu achei bonitinho! - disse o presidente. - Mas no tocante a isso daí, eu acho que

você tem razão. A esquerda comunista vai cair de pau em cima da gente.


- E depois, o ex-presidente Lula se vacinou hoje com a Coronavac e o Zé Gotinha esteve presente, feliz com a imunização do petista.


- Sério!? Eu sempre achei que esse Zé Gotinha tinha cara de comunista - disse o filho do presidente, rasgando o cartaz. - Vou apagar o post das minhas redes sociais - disse, batendo a porta.

 

*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário