segunda-feira, 29 de abril de 2024

MUG, UMA LENDA




Boneco símbolo dos anos 70 completou 58 anos.

por Ediel Ribeiro


Rio - Na rua da minha infância, em Duque de Caxias (RJ), havia um time de pelada de amigos, chamado MUG.

Nós torciamos pelo Mug, embora, ainda criança, eu não soubesse  quem era, nem conhecia a história daquele boneco negro, de pano, desengonçado, de braços compridos e roupa xadrez.

O boneco Mug, com seu cabelo espetado, sem pescoço, sem cintura e  extremamente gordo, foi criado em 1966 por dois jovens: Horácio Berlinck e João Leão, ambos da equipe de criadores de ‘O Fino da Bossa’, da ‘TV Record’, programa comandado por Elis Regina.

O projeto surgiu de uma brincadeira entre Berlink e Leão,  em um bar da cidade de Paris até se tornar uma das maiores febres do Brasil, na década de 60. Fabricado na tecelagem do pai de Berlinck, - em Bragança Paulista-SP e preenchidos com cortiça importada de Portugal - o boneco, símbolo da Jovem Guarda, vendeu 100 mil unidades no lançamento.

Passados 58 anos, ele ainda é lembrado e mexe com a memória afetiva de muita gente. Sem grana para promover o produto, a primeira estratégia dos criadores foi a de distribuir gratuitamente Mugs a artistas e celebridades. “A gente não tinha dinheiro para pagar anúncio, então tentamos colocar nos lugares mais difíceis”, recorda Berlinck. 

Os bonecos foram enviados para cantores como Roberto Carlos, Elis Regina, Adoniran Barbosa e Nara Leão; para os humoristas Jô Soares, Chico Anysio e Ronald Golias, e até para grandes nomes da mídia nacional como os jornalistas Otávio Frias, Mino Carta, Júlio Mesquita, João Saad; o apresentador Silvio Santos e o empresário Paulo Machado de Carvalho. 

Horácio Berlinck confirma: “Wilson Simonal e Chico Buarque - que em 1967 estouraria como artista do ano - foram as grandes locomotivas de todo o sucesso. Os artistas passaram a andar para cima e para baixo com seu Mug”.

Wilson Simonal, no auge da carreira, passou a realizar um show chamado “O MUGnífico Simonal”. “Meu pai falava que nunca ganhou dinheiro com o Mug”, afirma o também cantor Simoninha, filho de Simonal. “Classificava como uma ‘relação romântica' com o boneco, febre nos anos 60”.

Não demorou muito para que o boneco começasse a sair na imprensa ao lado de grandes artistas, o que fez com que ele logo se tornasse uma febre no Natal de 1966. A repercussão se estendeu das tiras do cartunista Maurício de Souza às reportagens em  colunas de jornais. Walther Negrão, autor de novelas que, na época, escrevia uma coluna sobre  TV na Folha de S. Paulo, escreveu um texto de seis laudas para o jornal onde falava do Mug. “Ele era nosso assessor de imprensa e ajudou a gente a chegar aos jornais”, conta Horácio. 

O boneco estava por toda parte. Fez tanto sucesso que virou mascote do Internacional de Porto Alegre. Na virada do ano, de 1966 para 1967, o vencedor da Corrida de São Silvestre, o colombiano Alvaro Mejia Flores, posou para fotos no pódio carregando o Mug: “O meu pai levou vários Mugs para a Avenida Paulista e distribuiu para os amigos. Ele os desafiou para ver quem conseguiria entregar um para o vencedor da prova. Ele sempre contava essa história”, lembra Leão.

A cantora Inês Jordan, então um enorme sucesso na Argentina a ponto de ser chamada de “Rainha”, também foi fotografada ao lado do Mug quando veio ao Brasil. Para as gincanas da TV Record. Os bonecos também apareceram no desfile de 1967 do Acadêmicos do Salgueiro, no Rio, cujo enredo era “História da Liberdade no Brasil”.

A procura dos brasileiros pelo boneco aumentou tanto que, além dos bonecos, a produção criou bottons, calendários, fantasias de carnaval e até mesmo Mugs gigantes para parques de diversões. Isso sem falar no “Baile do Mug”, realizado às sextas-feiras, na casa noturna Casa Grande, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, no Rio de Janeiro.

Todos os Mugs vendidos vinham acompanhados de um livro que contava porque ele trazia boa sorte. O “Samba do Mug”, cantado por Wilson Simonal em homenagem ao personagem, é lembrado até hoje. O boneco ganhou um quadro fixo no programa que Simonal apresentava na 'TV Record' e dividiu com ele a capa do LP 'Vou deixar cair'. 

Horácio Berlinck Neto está aposentado e vivendo no interior de São Paulo. João Evangelista Leão faleceu em 1997 e seu filho, João Leão Filho criou um site do Mug para manter viva a lenda e a história do boneco.


*Ediel Ribeiro é jornalista, cartunista e escritor.

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