quinta-feira, 30 de novembro de 2023

ENTREVISTA COM OTELO CAÇADOR

 

EXCLUSIVA!!! Pela primeira vez, publico aqui no Facebook, na íntegra, a sensacional entrevista com Otelo Caçador, um dos maiores cartunistas brasileiro.

Há 17 anos, o humor perdia Otelo Caçador. 

ENTREVISTA COM O CARTUNISTA OTELO CAÇADOR

Rio - Na década de 90, eu editava o “Cartoon”, um jornal de humor com “os órfãos do Pasquim”, uma galera, que, com o fim do semanário carioca, ficou sem ter onde publicar. Junto com os cartunistas Jaguar (Pasquim), Ykenga (O Povo), Ferreth (O Dia) e Leonardo (Extra), fui entrevistar Otelo Caçador. 

Otelo - para quem não sabe - foi um cartunista que fez durante 33 anos uma página de humor - Penalty do Otelo - no jornal “O Globo”.

Otelo nos recebeu no bar Degrau, no Leblon, onde, entre um gole e outro, falou durante cinco horas sobre o Leblon, música, boemia, mulheres, amigos, humor e, claro, futebol. (Ediel Ribeiro)

Leonardo – Otelo, como foi o começo? Quando você percebeu que queria ser desenhista?

Otelo – Ah, isso vem desde o tempo de colégio. Eu ficava desenhando a cara do professor, criava histórias em quadrinhos. Comecei como todo mundo.

Leonardo – Você jogou futebol?

Otelo - Joguei. Joguei futebol no Flamengo, mas era muito ruim.

Jaguar – Era ruim pra época ou hoje você jogaria?

Otelo – Não, não. Hoje ainda seria pior. Eu era ponta-esquerda que era mais próximo do vestiário. Era o primeiro a ser substituído (risos).

Ediel – Por quê, Otelo Caçador?

Otelo – Otelo, porque meu pai era admirador de ópera e Caçador é uma família do Norte, pequenininha.

Ykenga – Você nasceu no Leblon?

Otelo – Não, eu não nasci no Leblon. Eu nasci no Irajá, mas vim morar aqui ainda garoto. Na época, ainda tinha burro pastando, bonde, podia-se dormir com a janela aberta

Ykenga – No início, você teve que batalhar muito para publicar seus desenhos?

Otelo – Foi meio acidental. Eu tinha um amigo que trabalhava no “Jornal do Sports” e levou uns desenhos meus pra lá e o Mário Filho gostou.

Ferreth – Você tinha quantos anos, na época?

Otelo – Era garoto. Tinha 19 anos. Era desenhista de arquitetura.

Ykenga – Quem eram os bons da época?

Otelo – Não tinham muitos, não. Tinha a ditadura do Getúlio e as charges eram proibidas. Tinha o Teo, o Mendez e o Nássara.

Leonardo – Foi você quem trouxe o Lan para o Brasil?

Otelo – Eu influenciei um pouco. Eu conheci o Lan em 1951, em Buenos Aires. Ele estava num jornal chamado “Notícias Gráficas”; aí eu falei com ele sobre o Brasil, o Rio, as mulatas. Ele é apaixonado por mulatas. E ele veio. O Samuel Wainer o levou para São Paulo e daí ele veio pro Rio.

Ykenga – Qual era o estilo da época?

Otelo – Era mais a charge social, porque a charge política era censurada pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Você não podia nem dizer que tava faltando água na rua. Eu peguei duas ditaduras; a do DIP e a militar.

Ediel – Você foi muito censurado?

Otelo – Eu não era censurado porque eu fazia futebol e no futebol a censura era menor.

Ediel – Mas existia intervenção no futebol. Lembra o caso da convocação do Dario, em 70?

Otelo – Dizem que o João Saldanha, na época, técnico da seleção, disse pro Medici: “O senhor convoca seu ministério e eu escalo meu time”. Quase foi preso (risos). Uma vez, eu fiz uma charge, acho que contra o Palmeiras, e um general mandou me dizer que se continuasse sacaneando o time dele ele mandava cortar a minha mão (risos).

Ediel – Tem algum jogador que você tenha caricaturado e ele não gostou?

Otelo – O Brito. Eu fiz uma caricatura dele no programa do Chacrinha, ele olhou o desenho e disse: “Essa merda não sou eu, não” (risos).

Ediel – E o Brito era feio pra cacete! (risos). Quem eram seus ídolos?

Otelo: Eu sou fã do Nássara. O Nássara é o maior carioca. No dia que fizerem uma estátua representando o carioca, tem que ser o Nássara. Você faz uma pergunta pro Nássara e ele responde “carioca”: na sacanagem. E como caricaturista ele é formidável. Se o Nássara fizer sua caricatura e não ficar parecida, sua cara vai se transformando até ficar parecida com a caricatura (risos). 

Ykenga – Você acha que revolucionou a maneira de desenhar?

Otelo – Não é revolucionar. Não é nada disso. É que os colegas da época faziam um desenho mais parado; e eu, como fazia futebol, tinha que dar movimento aos bonecos, só isso.

Ferreth – O público de futebol era maior, na época?

Otélo – Era praticamente a única diversão que o povo tinha. Era barato. Era a praia e o futebol, o resto era caro ou censurado. Cinema era censurado, tudo…

Jaguar – No início da carreira você era duplamente reserva: era reserva do Ademir no futebol e do Péricles no jornal.

Otelo: Eu era reserva do Ademir porque ele era bom paca, e eu era ruim. Agora do Péricles eu não fui reserva, não. Ele veio primeiro pro Rio e ele era muito parecido comigo. Tinha aquele bigodinho. Ele desenhava pra “Cigarra” e eu pro “Jornal dos Sports”.

Ediel – Quando você conheceu o Péricles, em Pernambuco, você já desenhava?

Otelo – Eu já desenhava e ele também.

Ediel – Você veio pro “Jornal dos Sports” pra substituir um argentino chamado Lourenço Molas, ele teve alguma influência no seu traço?

Otelo - Olha, quando você tá começando, sempre sofre várias influências, né? Teve muita gente que me influenciou. Não há geração espontânea. Todo artista começa seguindo alguém seja lá quem for.

Ediel – No “Jornal dos Sports”, Mário Filho te aconselhou a mudar de nome, por quê?

Otelo – Por causa do Grande Otelo. Ele disse: “Por mais conhecido que você se torne, você jamais será tão popular quanto o Grande Otelo. Por que você não assina Caçador?” Mais eu queria que os garotos da minha rua – a João Lira, no Leblon – soubessem que era eu, Otelo, quem fazia aqueles desenhos no jornal. Aí, ficou Otelo, mesmo.

Jaguar – Como foi a criação da sua página de humor no jornal “O Globo”?

Otelo - Eu comecei fazendo charge diária. Aí, “O Globo” comprou umas máquinas a cores e eu passei a fazer os primeiros desenhos de humor coloridos do país. Não demorou, e o Roberto Marinho me chamou e perguntou: “você é capaz de fazer uma página inteira de humor?” Eu, garoto, disse que sim, e realmente fiz essa página durante 33 anos. Ganhei 23 prêmios e a página foi um grande sucesso.

Ediel – É verdade que o Zezé Moreira uma vez quis te pegar por causa de uma charge?

Otelo – É. Uma vez aconteceu uma coisa engraçada em Londres, na Copa de 66: ele não me conhecia pessoalmente e nós pegamos o elevador juntos. Só eu e ele no elevador. Eu calado e ele começou a falar comigo: “o senhor é brasileiro?” (risos). “O senhor é jornalista?” (mais risos). Eu continuei calado (fazendo cara de medo). E o elevador não chegava nunca. Nessas horas o elevador demora pra burro (risos).

Jaguar – Por que ele tinha o apelido de Zezé Cavalo?

Otelo – Ele dava muita porrada quando jogava.

Ediel – Mas você deu umas porradas no Roniquito…

Otelo – Aquilo foi briga de bêbados.

Jaguar – Henfil odiava o futebol. Não ia ao Maracanã. Você gosta de futebol?

Otelo – Teve uma época que eu gostei mais, depois fui enchendo o saco com negócio de assalto, arrastão…

Ykenga – É verdade que você não atravessa túnel?

Otelo – (rindo) Atravessar túnel, hoje em dia, é uma aventura. Tem assalto. Mas eu não gosto é de túnel que tem curva (risos). Túnel reto, que você vê o outro lado, não tem problema.

Ediel – Você criou expressões como “Placar Moral”, que são usadas até hoje…

Otelo - Criei. Crei o “Placar Moral”, “Leiteria”, “Campeão Moral”… 

Ediel - Você foi o primeiro a chamar o Pelé de o “Rei do Futebol”?

Otelo - Tinha visto um filme do Victor Mature, “O Rei do Futebol”, sobre futebol americano, rugby. E no Brasil tinha rei de tudo: Rei do Baião, Rei do Rádio… Aí eu lancei o Zizinho como Rei do Futebol. Desenhei o Zizinho com coroa, cedro e tudo. Mas não colou. Depois, com o Didi, também não colou. Quando fiz o Pelé, colou na hora, porque ele realmente era o rei. Hoje, o Pelé diz que foi a imprensa francesa que deu a ele o título de rei do futebol. Mas ele tá certo. Entre um cronista do Leblon e a imprensa francesa, ele preferiu a imprensa francesa que dá mais cartaz a ele.

Ferreth – E o “Diploma de Sofredor”?

Otelo – Quando eu criei o “Diploma de Sofredor” , por incrível que pareça, aumentou a tiragem do “O Globo” às segundas-feiras. As pessoas compravam o jornal e recortavam o diploma para sacanear os amigos. Depois eu fiz o escrete dos pernas-de-pau, porque na época havia o escrete dos cobras, ai eu inventei e fiz com os piores da semana, mas eu só procurava botar cobras: Roberto Dinamite, Zico… Também criei frases como “Pênalti não é coisa que se perca” e “Nada mais discutível que o pênalti indiscutível”, entre outras.

Ediel – Você disse uma vez que tudo que Pelé fez, Zizinho fez. Só que sem a televisão. Você acha Zizinho melhor que Pelé?

Otelo – Eram dois artistas. Artistas não se comparam. É comparar Francisco Alves com Orlando Silva. Agora, o Pelé era mais perfeito. Tinha o jogo aéreo. O Pelé subia três estágios, como o foguete.

Ediel – Era como o Dario, que dizia que parava no ar?

Otelo – É. O Dario dizia que só havia duas coisas que paravam no ar: ele e o beija-flor.

Ediel – É verdade que você se inspirou na coluna “O Pangaré” do Haroldo Barbosa para fazer o “Penalty do Otélo”?

Otelo – É verdade, sim. A coluna do Haroldo Barbosa, mesmo quem não gostava de cavalos, lia.

Ykenga – Você tem algum livro publicado?

Otelo – Tenho. Tenho dois livros publicados: Livro Negro do Penalty – 1 e Livro Negro do Penalty – 2. O primeiro chegou a vender 25 mil exemplares. Um recorde, na época. Eu comprei um apartamento em Laranjeiras com o dinheiro do livro. Aí fiz o segundo e não aconteceu nada.

Jaguar – Aí teve que vender o apartamento (risos).

Ykenga – O que você está fazendo hoje?

Otelo – Hoje eu sou rico (risos). Ah, e faço uma página de humor às segundas-feiras no jornal “Extra”.

Ediel – Você sempre viveu da sua arte?

Otelo - Todo o dinheiro que eu ganhei na minha vida, ganhei desenhando. Cheguei a ter três apartamentos na zona sul.

Ykenga – Quantos jornais havia na época?

Otelo – Quantos tinham eu não sei, mas fecharam 17: “Vanguarda”, “Diário da Noite”, “O Jornal”, “Correio da Manhã”, “Luta Democrática”, “Última Hora”…

Ykenga – Tinha também “O Diário”.

Otelo – Fechou também.

Ediel – Quando você foi chamado pelo O Globo, pensava ficar lá 33 anos?

Otelo – Não. Não pensava. Jornal, você sabe, é emprego flutuante. Hoje você tá aqui, amanhã não tá mais.

Leonardo – O sucesso foi rápido?

Otelo – Há foi. Eu recebia cartas de todo lugar do Brasil. Vinham cartas do Ceará. Guaporé. Cidades que eu nem sabia que existiam.

Jaguar – Guaporé devia ser o Sarney que tava te escrevendo (risos).

Ykenga – Você tem fama de ter sido um grande boêmio.

Otelo – Todos os meus ídolos da época eram boêmios: Ary Barroso. Eu com 19 anos já tomava porre com Ary barroso. A figura mais popular do Rio era o Ary Barroso. Ele trabalhava no rádio, na televisão, no jornal. Tinha uma seção no jornal que eu ilustrei. Tudo que o Ary fazia era sucesso. Ele era uma soma do Tom Jobim com o Chico Buarque. As pessoas assoviavam suas músicas nas ruas. Uma música só é sucesso quando o povo assovia nas ruas.

Jaguar – Como é que o cara vai assoviar, hoje, uma música do Gabriel Pensador (risos)?

Otelo – Dorival Caymmi era meu vizinho. Hoje parece que ele não bebe, mas na época, ele enchia a cara. Aí eu pensei: todo cara que faz sucesso toma porre, e eu queria ser sucesso. Quem é que não quer? Então, acompanhava…

Ediel – Hoje, se um jovem for acompanhar seus ídolos vai ter que cheirar muito (risos).

Jaguar – Qual era a sua turma?

Otelo – (contando nos dedos) Era o Luiz Jatobá, Silveira Sampaio, Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes, Ary Barroso, Sérgio Porto, Antônio Maria, Lúcio Rangel…

Jaguar – Quem era o “pole-position” da boemia?

Otelo – Era o Lúcio Rangel. Não só da boemia, era um cara muito culto. Eu aprendi muito com Lúcio Rangel.

Ediel – Foi por isso que você disse que quem nunca tomou um porre com Lúcio Rangel não pode ser considerado carioca?

Jaguar – (rindo) Felizmente, então, eu sou carioca. Tomei muito porre com o Lúcio Rangel.

Otelo – Ele esperava o Bofetada (bar carioca) abrir, sentado na calçada. No Zepellin (outro bar carioca), ao lado da cadeira do Lúcio, passava o encanamento do gás da cozinha, e tava vazando. Como ele era o primeiro a chegar nós já o encontrávamos de porre. Aí ele dizia: (imitando o Lúcio) “Mas é o meu primeiro uísque, porra!” O porre era de gás (risos).

Jaguar – Ele foi o primeiro a tomar uísque gaseificado (risos).

Otélo – Ele tinha uma frase que ficou famosa: “A melhor bebida do mundo é o uísque. Depois, é o uísque falsificado.”

Ediel – Existia, na época, alguma diferença entre a boemia do Leblon e a boemia de Ipanema?

Otelo – (didático) Não. A boemia começou no centro, na Lapa. Depois veio pra zona sul e se espalhou pelos bares: teve o Bon Marché, teve o Zepellin, o Jangadeiro… Todos tiveram sua época. Tinha até uma piada do Isac Zuckman, que foi secretário do Ary Barroso. Ele dizia: Aquele bar que tem nome de índio, o Xavantes. Não era Xavante, era Cervantes (risos).

Ykenga – Dizem que o Ary Barroso, aonde chegava gostava de ser o centro das atenções.

Otelo – O Ary Barroso era o cara mais narcisista que já houve. Se chegasse a um bar e não se sentisse homenageado, ia pro telefone e berrava pra todo mundo ouvir: (imitando a voz do Ary Barroso) “Alô, aqui é o Ary Barroso, autor de Aquarela do Brasil. Ontem, irradiei o FLA_FLU”; “Tenho mais de 300 músicas gravadas…”

Ykenga – (rindo) Hoje quem faz isso é o Ziraldo.

Otelo – (gritando na direção do gravador) Olha, é você que tá dizendo isto. Eu não disse nada (risos).

Ediel – Você ouvia muito rádio?

Otelo – Muito. Naquele tempo só havia o rádio. Eu tinha muitos amigos no rádio. Não havia a televisão. Não como hoje. Os maiores artistas surgiram no rádio; o futebol fazia muito sucesso no rádio. O rádio era basicamente isso: música e futebol.

Ediel – É verdade que foi você quem deu nome a esse bar?

Otelo – Foi. Eu marcava encontro com o Lúcio Rangel e dizia: “Lá no Degrau. Aquele bar que tem um degrau.” Porque tinha um degrau que todo mundo caía, ou na entrada ou na saída. Geralmente, na saída (risos).

Ediel – Numa entrevista que eu fiz com o cantor Elson do Forrogode, ele disse que comprou uma casa em Pedra de Guaratiba e, no dia seguinte chamou o pedreiro e falou: “tira essa merda daí que casa de bêbado não pode ter degrau” (risos). Lá, ele tem três banheiros: um pra mijar, um pra cagar e outro pra vomitar (risos).

Otelo – O Leblon é engraçado. Tem Luvaria Gomes, que não vende luvas, vende pratos. Tem o Café e Bar Bilhares, que nunca teve bilhar (risos).

Jaguar – E tem o Bar Memória que ninguém se lembra dele (risos).

Otelo – Tem o Bar Raquete, um pé-sujo. Nunca entrou um tenista (risos).

Ediel – É porque o dono deve dar raquetada em quem não paga a conta (risos).

Ferreth – Qual era a bebida preferida da turma?

Otelo – Uísque. O uísque foi trazido pelo Lúcio Rangel. Depois vieram o Vinícius de Moraes e o Paulo Mendes Campos.

Ediel – Você se reunia no Veloso com grandes nomes da MPB, mas, ironicamente, ali não se podiam tocar instrumentos musicais. Por que então vocês frequentavam o bar?

Otelo – Porque era perto. Luis Bonfá morava em frente; Baden Powel morava num hotel ali perto; Tom Jobim, também. O Tom, por sinal, foi proibido de tocar violão aqui no Degrau. Um dia ele chegou e foi mostrar pra gente uma música nova que tinha feito. Começou tocar, aí o português chegou e disse: (imitando o português) “Ó pá, aqui não se pode “tucar” violão” (risos).

Leonardo – Como é que você fazia pra fazer uma página de humor depois da boemia?

Otelo - Eu adiantava a metade e completava depois do jogo. Às vezes, fazia duas charges, uma contra e outra a favor. Aí dava empate e eu ficava desesperado (riso).

Ediel – Tem uma frase que atribuem a você: “Humorista tem que escolher: ou ele é humorista ou é paulista. As duas coisas, não dá.”

Otelo – É da época que eu gozava os colegas paulistas. O humor paulista é outro tipo de humor.

Ediel – Foi por isso que você falou que o Faustão não faria sucesso aqui no Rio?

Otelo – Foi uma surpresa pra mim. Eu achei que ele não faria sucesso por aqui. Também, é por causa dos prêmios. Você vê o Sílvio Santos. O Sílvio não tem uma televisão; ele tem um casino (risos).

Ykenga – Qual era o papel do Jô Soares neste casino?

Otelo - O Jô jogaram ele lá pras onze e meia. Mas tem talento. O talento supera tudo.

Ediel – Quem era o melhor papo da turma?

Otelo – Aí era páreo duro. Tinham vários. O Haroldo Barbosa era um bom papo. Engraçado pra burro. Chegava numa mesa e fazia todo mundo rir.

Ykenga – Qual a participação das mulheres na turma?

Otelo – As mulheres vieram muito depois. Tinha a Aracy de Almeida, a Eneida (Helô Pinheiro, modelo que ficou conhecida por ter sido a musa inspiradora de Tom Jobim e Vinicius de Moraes para a canção “Garota de Ipanema”), a Leila Diniz… Leila foi a primeira mulher a freqüentar um bar. A Leila tirou a mulher do tronco, como dizia Carlos Drummond de Andrade.

Jaguar – Tirou do tronco e levou o tronco pra cama (risos).

Ediel – Sérgio Porto bebia pouco? É verdade que ele passava a noite mexendo o gelo do copo com o dedo?

Otelo – Ele bebia pouco. O Sérgio bebia pouco. Vinícius bebia bem. O Lúcio Rangel, também. O Sérgio, não.

Jaguar – O Sérgio não bebia, o dedo dele é que era alcoólatra (risos).

Ediel – Na sua época, era fácil viver de humor?

Otelo – Não, era pior que hoje. Havia muita concorrência e o mercado era menor. A minha vantagem é que eu só fazia futebol.

Ferreth – É verdade que o Teo ia todo bonitinho pra revista “O Cruzeiro” e saía todo amarrotado?

Otelo – Ele bebia muito. O Teo era pau-d água.

Ediel – Você que por tantos anos fez coluna de humor, ironicamente, parou justamente por problemas na coluna?

Otelo – Eu passava muitas horas sentado desenhando, então como eu sou alto, ficava muito tempo curvado. Fatalmente, com o tempo, eu teria problemas de coluna, né, doutora? (dirigindo-se à Célia, mulher do Jaguar, que acabara de chegar)

Ediel – Que conselhos você daria para um garoto quisesse seguir seus passos?

Otelo – Bom, primeiro ele tem que gostar de futebol e desenho. Tem que ter essas duas paixões e depois ter um pistolão como o Dr. Roberto Marinho (risos).

Jaguar – Ou como a dona Lili de Carvalho.

Otelo – É. Roberto Marinho está apaixonado. Agora ele não morre mais. Um homem apaixonado não morre. Agora, se o amor acabar, é fatal (risos).

N.A.: Otélo faleceu em 30 de janeiro de 2006, aos 80 anos. Essa foi sua última entrevista (publicada nos jornais “O Folha de Minas”, “Hic!” e no site “Tribuna HQ”. 

(Foto: arquivo pessoal de Otelo)



FIM


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