segunda-feira, 30 de outubro de 2023

MEU ENCONTRO COM DRUMMOND



por Ediel Ribeiro

Rio - Carlos Drummond de Andrade que, se vivo, faria hoje 121 anos, foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX.

Drummond foi um dos meus ídolos. Foi o primeiro poeta que li. E foi, também, um dos cinco artistas que tive o prazer de conhecer. Os outros foram Luis Fernando Veríssimo, Ziraldo, Lan e Otelo Caçador.

Quando conheci sua prosa - tão grande e importante quanto sua poesia - abandonei um pouco o poeta e me apaixonei pelo cronista. Mas nunca abandonei o artista.

Drummond nasceu na cidade de Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. Começou a carreira como colaborador do ‘Diário de Minas’. Em 1925, fundou 'A Revista’, órgão modernista mineiro. Funcionário público, transferiu-se para o Rio em 1934. 

O poeta publicou diversas obras de poesia e prosa sendo um dos principais poetas da segunda geração do modernismo brasileiro, embora sua obra não se restrinja a formas e temáticas de movimentos específicos.

Os temas de sua obra são vastos e empreendem desde questões existenciais, como o sentido da vida e da morte, passando por questões cotidianas, familiares e políticas, como o socialismo. Como jornalista escreveu na ‘Tribuna da Imprensa’ e foi cronista do ‘Jornal do Brasil’ de 1969 a 1984.

Nos anos 1940, Drummond ingressou nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e chegou a dirigir o jornal do Partido no Rio de Janeiro, onde realizou uma entrevista com o dirigente do partido Luis Carlos Prestes, ainda na cadeia.

Nosso encontro:

Estávamos em 1981. Tempos de ditadura no Brasil. Ziraldo e o poeta Carlos Drummond de Andrade, lançavam, em Ipanema, o livro "O Pipoqueiro da Esquina".

O livro era uma seleção das tiradas (chamadas de pipocas) que Carlos Drummond de Andrade escrevia no “Jornal do Brasil'', ilustradas pelo Ziraldo.

Uma obra marcante, sobretudo, pela apreensão do momento histórico ali retratado.

Eu, na época, um jovem cartunista, começava a publicar meus trabalhos no jornal "Luta Democrática", do lendário Tenório Cavalcante.

Duro. Não tinha dinheiro pra comprar o livro dos meus ídolos. Era um livro grande, de capa dura, bonito e caro pra cacete.

Fui à noite de autógrafo com um velho e surrado livro do Ziraldo: "A Última do Brasileiro", lançado em 1975, pela Codecri, editora do jornal  "O Pasquim".

A fila era enorme. Na minha vez, tímido, disse que também era cartunista e entreguei o livro nas mãos do Ziraldo. Ele olhou o livro, me encarou e, sorrindo, autografou e me devolveu.

Sentado ao lado dele, estava o poeta. Eu estava bastante emocionado. Era a primeira vez que me encontrava pessoalmente com o grande poeta. Lembrei dos primeiros livros que li dele e dos poemas que a professora lia na sala de aula.

Entreguei o livro. Ele olhou pra mim e disse: “Mas, esse livro não é meu. É do Ziraldo”.  Em seguida, sorriu, apertou minha mão, desenhou uma autocaricatura (o poeta sempre quis ser um cartunista) e tascou: "Ediel, entro nesse livro de gaiato. Carlos Drummond de Andrade."

De temperamento reservado, o poeta pouco saía de casa e não gostava de dar entrevistas. Drummond morreu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987,  poucos dias após a morte de sua filha, Maria Julieta Drummond de Andrade.


*Ediel é jornalista, cartunista e escritor.


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