por Ediel Ribeiro
Rio - O personagem Fausto, de Goethe, é um homem extremamente inteligente mas especialmente insatisfeito com o próprio conhecimento.
Como o personagem, o cartunista Fausto Bergocce também tem sede de conhecimento. Mas, ao contrário do protagonista do poema dramático de Johann Wolfgang Von Goethe, não precisou vender a alma ao demônio para ver seus desejos realizados. Virou jornalista.
Fausto além de jornalista é cartunista, chargista, quadrinista, ilustrador, pintor, escritor e autor de 14 livros.
O cartunista nasceu em Reginópolis (SP), em 1952. Começou a carreira, em 1974, como caricaturista no jornal “Guaru-News”, de Guarulhos, interior de São Paulo. Fez parte da primeira redação do “Metrô-News” — também guarulhense.
A partir de 1976, passou a fazer freelas na grande imprensa de São Paulo. Colaborou com os jornais “Última Hora”, “Folha de S. Paulo”, “O Estado de São Paulo”, “O São Paulo”, “Popular da Tarde”, “Diário Popular”, “Diário de São Paulo”, “Diário de Guarulhos”, “Diário do Grande ABC” e com o portal Chargeonline.
Produziu charges animadas para os programas “Vídeo Esporte” e “Jornal 60 Minutos”, ambos da TV Cultura, com atuação paralela no Departamento de Cenografia e Arte da mesma emissora.
Em 1979, na imprensa sindical, produziu por meio da agência Oboré o “Gibi do Trabalhador”, em parceria com o cartunista Laerte.
Em 1981, recebeu menção honrosa como melhor cartum no 1º Prêmio Abraciclo de Jornalismo e, em 2000, foi agraciado com o Troféu HQ Mix de melhor livro de caricaturas.
No final dos anos 70 ingressou na edição paulista do jornal “Última Hora”, na vaga do pintor, ilustrador e chargista Pedro Lara Dante, que foi ilustrador do “Almanaque”, do Barão de Itararé.
No jornal fundado por Samuel Wainer, editou uma página de cartuns no caderno “Gente”, na edição dominical. Fez também ilustrações, charges e cartuns. Era vizinho de página do genial Henfil, que publicava alí as “Cartas ao Primo Figueiredo” - cartas fictícias endereçadas ao presidente da época, o general João Batista de Figueiredo.
Fausto, como todo jornalista, é um contador de histórias. Da última vez que nos encontramos, num boteco na Lapa (RJ), em um encontro com os cartunista do jornal “Mais Humor”, entre um chopp e outro, ele me contou algumas dessas histórias. Uma delas:
“Em 1979, eu e alguns colegas do "Última Hora” estávamos em greve. Uma greve de jornalistas, que durou pouco tempo. Uns 15 dias. Estávamos num piquete na porta do jornal, tentando impedir a entrada de companheiros na redação. O "Última Hora” fazia parte do Grupo Folha. Lá pelas tantas, apareceu um homem baixinho, grisalho, bem vestido e com uma pastinha na mão. Nos aproximamos dele, tentando convencê-lo a não entrar nas dependências do jornal. Não furar a greve. Conversa vai, conversa vem, e ele, depois de algum tempo, muito atenciosamente, nos convenceu de que precisava entrar já que era o dono do jornal. Essa é a história do dia em que eu tentei impedir que Otávio Frias entrasse no próprio jornal.”
Em 1979, o “Última Hora” encerrou suas atividades em São Paulo. Como era contratado pelo Grupo Folha, Fausto passou a fazer parte da redação da “Folha de S. Paulo”, ficando por lá por 6 anos.
Nesse período, conviveu com Angeli, Fortuna, Laerte, Glauco, Luiz Gê, Alcy, Emilio Damiani, Luiz Carneiro e Jaime Leão, entre outros. eli
Dos tempos de "Folha", Fausto tem muitas histórias. Uma delas:
"Angeli era um dos 'Deuses' que habitavam o 'Olimpo' da Folha de São Paulo. Passava o dia desenhando enormes cartuns, com direito a cenários geniais. Aquilo dava um puta trabalho! Um dia, depois de finalizar um cartum, Angeli saiu da prancheta para pegar um café. Glauco, aproveitando-se da ausência do amigo, jogou nanquim num pedaço de papel, recortou e colocou em cima do desenho do Angeli, ao lado de um copinho de café tombado. Quando Angeli - sem os óculos - viu aquela mancha enorme no seu desenho, gritou, assustando a redação: "Quem foi o filho-da-puta que derramou café no meu trabalho!!???". Num canto, o porra-louca do Glauco, morria de rir.
Depois do período na “Folha”, trabalhou durante 16 anos no jornal “Diário Popular”, como ilustrador, cartunista e chargista.
Paralelamente ao trabalho no “Diário Popular”, trabalhou na TV Cultura - onde produziu charges animadas - e, no começo dos anos 1980, trabalhou na revista “Homem”, da Editora Três, ao lado dos cartunistas Bira Dantas, Marco, Nani, Duá e Verde, entre outros.
Fausto passou ainda pelo “Diário de São Paulo”, pelo jornal “Olho Vivo” e “Diário de Guarulhos”. Atualmente, trabalha em casa, como frila, para o “Estúdio Chinelão” e para o tablóide carioca “Mais Humor”.
Ziraldo, que admirava o trabalho do cartunista, escreveu no préfacio do livro "Viva Cartum":
*Ediel Ribeiro é jornalista, cartunista e escritor.
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