domingo, 7 de março de 2021

AERO SPRAY


por Ediel Ribeiro


Rio - Parece que há uma tendência no país, hoje em dia, de as pessoas julgarem o presidente.

Isso vem acontecendo desde que Jair Bolsonaro tentou impor aos brasileiros o uso da cloroquina - sem comprovação científica - no tratamento da Covid-19.

As pessoas não compraram a ideia e o governo ficou com um estoque de cloroquina que daria - se não fosse inútil - para imunizar toda a população da terra mais de uma vez.

No entanto, não é porque o presidente gastou milhões de reais com a cloroquina, ao invés de investir na vacina, nas seringas, nos hospitais, nos respiradores, no oxigênio... que ele merece ser criticado.

Não é porque, em plena pandemia, ele negou o vírus, criticou o uso da máscara, incentivou aglomerações, chamou o Covid-19 de "gripezinha" e colocou um paraquedista no Ministério da Saúde, que devemos culpá-lo.

Apesar do discurso do presidente sobre a doença apresentar idas e vindas ao sabor dos acontecimentos - e das platéias - uma coisa ninguém pode negar: ele está tentando achar a cura. Por eliminação ou por osmose, talvez um dia ele encontre. Já indicou, para o combate ao vírus, a hidroxicloroquina, a azitromicina, a ivermectina, a Annita, a nitazoxanida, o Tamiflu, a imunização de rebanho (nome, por sinal, sugestivo) e até um limãozinho, para aqueles que, como ele, tem histórico de atleta.

E não parou por aí, semana passada ele encheu um avião da Força Aérea Brasileira de amigos e foi para Israel comprar, segundo ele, um “spray milagroso” que cura a Covid-19.

Às vezes, como brasileiro, se sinto no dever de defender o presidente, mas dessa vez, ele foi longe demais.

Quando a notícia da viagem para Israel se espalhou, centenas de pessoas se ofereceram para participar do tour. Ministros, secretários, assessores, seguranças e até um anão, se ofereceram para a viagem.

- Nada disso! Só vão 10 pessoas! - decretou o presidente.

- Mas o avião é enorme, presidente, porque só dez pessoas? - quis saber
um assessor.

- Vamos voltar carregados de spray nasal.

- Mas, presidente, esse spray só foi testado até agora em 30 pessoas e em um rato. O rato, por sinal, morreu. Nem em Israel ele foi aprovado ainda. E se a carga ficar encalhada no Brasil, como a cloroquina?

- Isso daí já é outra ‘cuestão’.

- Eu posso ir, patrão? - perguntou o deputado Hélio Negão.

- Você pode! Você não faz nada no Brasil mesmo!

- Presidente, essa viagem está repercutindo muito mal no país. Alguns deputados querem entrar com ação para impedir o gasto absurdo com uma viagem em busca de um medicamento sem eficácia comprovada.

- Vamos gravar um vídeo dizendo que estamos indo para Israel para vender para os israelen -ses uma das quinze vacinas que estamos desenvolvendo.

- Mas, presidente, por que Israel que já imunizou quase 100% da sua população compraria uma vacina nossa que não imunizamos nem 4% dos brasileiros? - indagou um assessor.

- Bolsonaro sorriu e, candidamente, respondeu:

- Pergunta pra sua mãe!!

E a viagem seguiu.


*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor.

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