quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

A POESIA QUE HABITO

por Ediel Ribeiro

 

Rio - É uma sensação inédita - e saborosa - a de acordar em 2021 e descobrir que, por força de um sentimento tão lindo como o amor, me tornei poeta.

 

Quando comecei a escrever pequenos textos simples e despretensiosos para uma mulher, pela qual estava me apaixonando, não tinha nenhuma pretensão literária. Só queria agradá-la.

 

A Vida, no entanto, tinha outros planos. 

 

"Sua poesia é linda, você deveria publicá-las!"

 

A observação da mulher amada me pegou de surpresa. Poesia? Aquilo era poesia? Para mim, eram palavras soltas que coloquei no papel para conquistar um coração. Só isso.

 

"Você é um poeta. Sempre foi, só não sabia que era" - ela disse.

 

Então, virei poeta por amor. 


Minha poesia sai do coração. Solta. Pura. Escrevo versos livres,  permeados por metáforas e figuras de linguagem que não obedecem às exigências da métrica, tendo como único critério as pausas espontâneas da inspiração; ou dos versos soltos, que não se submetem à rigidez das rimas.

 

De lá para cá,  já publiquei vários  poemas, participei de várias antologias poéticas e, se a pandemia deixar, esse ano sairá o meu livro de poesias.

 

"O Amor não é só uma Palavrinha. É um Palavrão" é o meu livro de estréia como poeta. Espero que gostem de ler, tanto quanto gostei de escrever.

 

Obrigado, amor, pelo que você me tornou.

 

Público aqui  -  a guisa de crônica  - dois poemas do livro:

 

O VENTO E A VELA

A vela

É feita para o vento

Não para o barco


Sem o vento

A vela é inútil,


A vela sem o vento

É como as estrelas

Sem um poeta.


O vento é o amor

A vela é a amada.

Um não vive sem o outro.


A vento cuida da vela

Porque precisa dela,

Como o barco do mar.


Sem o vento a vela não existe.

É como a linha do horizonte:

Só uma miragem.


Às vezes, pertencemos a alguém

Que está longe, como o vento

E não a quem está perto, como o barco.


Não é o barco que te leva

É o vento.

O vento sabe mais sobre o destino que o barco.


Vento e vela se completam

Como o mar e o cais

Precisam um do outro.


Como disse o poeta:

Você não pode mudar o vento

Mas pode ajustar a vela


E navegar  

Por águas calmas

Até o pôr do sol.


GÊNIOS E LOUCOS


Há um gato sobre a mesa

Lambendo a orelha de Van Gogh

Lá fora,  Hemingway carrega seu rifle

Ouço um tiro


Num beco atrás do bar

Onde o escritor jaz bêbado 

Os cães lambem a cara de Faulkner

Ouço um latido

 

Burroughs e Mailer 

Matam suas mulheres

E são perseguidos pelo 

Padre Brown, detetive de Shesterton

Ouço passos

 

Sábato e Jorge Luis Borges

correm de Videla

Neruda e Bolaño de Pinochet

Zweig e Freud  de Hitler

Ouço tiros

 

Sócrates bebe cicuta

Num boteco na Grécia

Aristóteles é expulso de Atenas

Platão é vendido como escravo

Ouço arrastarem correntes

 

Bukowski come uma puta

Num quarto imundo

Beethoven, mesmo surdo,

reclama do barulho

Apago a luz

 

*Ediel Ribeiro é jornalista, poeta e escritor


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