sexta-feira, 4 de setembro de 2020

ALDIR BLANC, 75 ANOS


por Ediel Ribeiro


Rio de Janeiro - Ninguém falou, escreveu e cantou tanto o Rio de Janeiro como ele.

Se vivo fosse, Aldir Blanc teria completado, nesta segunda-feira, 2 de setembro, 75 anos.

Já escrevi muito sobre ele, aqui n’ O Folha de Minas. E, para não ser repetitivo, hoje - comemorando seu aniversário - vou reproduzir aqui um texto de sua autoria que encontrei num livrinho chamado “O Melhor da Crônica Brasileira - vol.2”

O livro, editado pela José Olympio Editora tem ilustrações do Mariano e do Guidacci, entre outras. A ilustra dessa crônica é do Manga.

MEDALHA CARIOCA

por Aldir Blanc

Verão. Entre as cortinas amarfanhadas da camisa aberta no peito cabeludo, São Jorge e o dragão representam. Meio sem saco. Estão cansados. O suor escorre sobre eles. Atrapalhado por moita de pêlos, entre crateras de cravos espremidos, o cavalo empina, aborrecido:


Suvaco mais brabo que o teu bafo, dragão.

Visivelmente necessitado de um dentista, o dragão sorri. É mineiro, natural de Vira-e-Casaca-do-Fundo:


Uai. Tá pensano que a vida são os estábulos do Figueiredo?

Jorge chama a atenção do bichano:


Ô “calor-que-provoca-arrepio”, para de filosofar e

vamo a luta. Vou acabar tendo que aceitar a proposta daquele empresário de catch.

O dragão suspira e, sem querer, incendeia um chato que pretendia ser cantor de reggae. Mais um. Quer dizer, menos um.


Que fim levou a princesa, Jorge?


Vão para com a intimidade. São Jorge. Nem a princesa me

chamava só pelo primeiro nome.


Cumé que ela chamava ocê?


Rói.


Rói Roger?


Não. Rói-Couro. Ela era paraibana.


Por que qui ela, depois de meter a gente nessa confusão, não aparece na medalha?


Foi coisa do Vaticano. Um cardeal - gaúcho, eu acho - falou:

ou ela ou eu. Acabaram saindo os dois.


Parecido com o racha no PC.


Ela foi trabalhar com a troupe dos irmãos Marinho, em suas

viagens à procura de prêmios.


Ocê quer dizer Irmãs Marinho.


Não, essa era outra companhia. Grandes bailarinas. Me

lembro. Mas a Princesa foi trabalhar na equipe dos Irmãos Marinho, os famosos caçadores de prêmios internacionais.

O dragão suspira novamente e taca fogo em Martinha, a pulga assessora da Funterj.


Olha o que você fez, seu cavalo!


Cavalo é ele. Eu sou o dragão.


Coitada da Martinha. Pulava fora como ninguém, no

entanto…


A gente diz que ela se matou em solidariedade ao…


Tu mostra bem que é uma cavalgadura desinformada, hein, ô

Silver da Baixada Fluminense?


Não esporeia, Jorge. Monta mas não esporeia.


Mas tu precisa se atualizar. Não se diz mais que alguém se

matou de araque, assim sem mais nem menos…


Ahn…


Tamos na abertura. É preciso apurar as responsabilidades.

Doa a quem doer. Se o dragão é culpado…


Epa, tô quase na aposentadoria e não vou pro sacrifício

sozinho…

São Jorge tirou um fiapo de bacalhau da cárie com a ponta da lança:


Calma, bicho. Tu é primário, responde em liberdade. A gente

diz que foi por amor. Dá absolvição numa boa.


Bem que a minha véia queria que eu tivesse uma casa de

fazenda… E se a grande imprensa fizer barulho?


A gente envolve a Princesa. Ela é amiga dos home...

O cavalo relincha de contentamento:


Vamo acabar todo mundo na Suíça, longe desse calor.

São Jorge tira o capacete onde se lê a palavra Malboro:


Vai ficar famoso, hein, seu lança-chamas de tabascada… Tá

feliz?


Só vou me sentir realizado quando conceder entrevista pro Fantástico. A véia vai derramar os torresmo.

Cigarra na árvore em frente:


Esse país tá cheio de sujeitos “queijo-de-macarrão”.

Formiga carregando folha:


“Queijo-de-macarrão”?


É. Aderindo em massa.

Verão.

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