por Ediel Ribeiro
Rio - Na época da Ditadura Militar no Brasil, alguns artistas se escondiam atrás de pseudônimos. Millôr Fernandes, por exemplo, assinou várias de suas obras como Vão Gôgo, na extinta revista “O Cruzeiro”.
Mas, o cartunista fluminense Álvaro Marins, abusou. Além do nome Álvaro, usou - como se dizia na época - mais três epitetos: 'Junqueira', 'Guido' e 'Seth'.
Me fez lembrar “Ubaldo, o paranóico”, personagem do Henfil.
Álvaro nasceu em Macaé, no Estado do Rio de Janeiro, em 18 de janeiro de 1891. Foi desenhista, cartunista, ilustrador e caricaturista, dos bons.
Aos 15 anos, usando o pseudônimo 'Junqueira', publicou sua primeira charge na revista “O Malho” (à época, a maior revista ilustrada do país). Nesta mesma época, fez alguns trabalhos para o extinto jornal “O Cutelo de Campos”, da cidade de Campos dos Goytacazes.
Em 1908, aos 15 anos, foi para o Rio de Janeiro estudar desenho no Liceu de Artes e Ofícios. A partir de 1909, colaborou com a "Gazeta de Notícias", passando a assinar seus desenhos como 'Guido'.
Nesta época passa a trabalhar na revista “O Gato” , onde adota o pseudônimo de 'Seth' assinando charges atacando o governo do presidente Hermes da Fonseca. Na revista “O Gato”, além das charges políticas, Seth começa a desenhar suas primeiras caricaturas. Já com o pseudônimo 'Seth', realizou trabalhos para as revistas "Tico-Tico", "O Malho", “O Gato” e “Fon-Fon”.
O sucesso como caricaturista não demorou a chegar. A partir de 1913, Seth logo é convidado para trabalhar no jornal “A Noite”, vespertino fundado pelo jornalista Irineu Marinho. Além do jornal da família Marinho, o cartunista publicou também nas revistas “Fon-Fon” - que tinha entre seus ilustradores J. Carlos, Nair de Tefé, Raul Pederneiras, K. Lixto e o pintor Di Cavalcanti -; “Seleta”, “Figuras & Figurões” e “Dom Quixote”, do Rio de Janeiro.
Entre 1917 e 1918, realiza trabalho pioneiro de desenho animado, produzido pelo laboratório Marc Ferraz e financiado por Sampaio Corrêa. Lançado e exibido no Rio de Janeiro, em 1917, “Kaiser” foi a primeira animação brasileira exibida nos cinemas. A primeira projeção foi em 22 de janeiro de 1917, no Cine Pathé. O curta faz uma sátira aos desejos expansionistas da Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial.
No ano seguinte, publica o álbum Exposição, com desenhos a bico de pena da série “Flagrantes cariocas”, produzida entre 1929 e 1936. Neles, satiriza os costumes das classes populares. Em 1936, ilustra o livro “O Amor Infeliz de Marília e Dirceu”, de Augusto Lima.
Seth era conhecido como o "rei do bico de pena", técnica que usava em seus detalhados desenhos. Com trabalhos que continham uma forte crítica social, Seth aborda em suas caricaturas temas políticos e populares, em tom sarcástico.
Seth trabalhou nos mais renomados jornais da época, como “O Malho” e a “A Noite”, fazendo charges políticas. O artista acrescentou movimento ao seu exímio traço e fez o Imperador Guilherme II contracenar com um globo terrestre.
Nos últimos anos de vida o cartunista se dedicou à criação de anúncios publicitários. Na segunda metade de 1917, criou os anúncios para uma casa famosa do Rio de Janeiro de então, a 'Casa Mathias', onde o destaque era a mulata Virgulina.
Seth escreveu os livros "Caderno Caligráfico para Uso das Crianças"; 1933 - "Primeiras Regras do Desenho - Conselhos Práticos aos Principiantes" (Editora Seth); 1934 - "Primeiras Regras do Desenho - Conselhos Práticos Sobre a Ciência de Desenhar" (Editora Seth); 1935 - "Primeiras Regras do Desenho - Conselhos Práticos aos Praticantes" (Editora Seth); 1937 - Exposição: Desenhos à bico de pena de Seth (1929/1936) Guia de Trânsito: Conselho às Crianças, entre outros.
A Bienal da Caricatura de Brasília, tem um concurso aberto a cartunistas de todo o mundo, no qual os artistas vencedores nas categorias cartum, charge , caricatura, e escultura caricatural, são agraciados com o troféu 'Seth', que recebe esse nome em homenagem a Álvaro Martins. Seth faleceu no Rio de Janeiro, em 28 de janeiro de 1949.
* Ediel é jornalista, cartunista e escritor
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