segunda-feira, 6 de novembro de 2017

OTÉLO CAÇADOR, 11 ANOS SEM O CARTUNISTA

por Ediel

Rio - O jornalista e cartunista Otélo Caçador - se vivo fosse - teria feito, dia 30 deste mês, 92 anos.

Otélo, para quem não lembra, fez durante 33 anos uma página de humor - Penalty - no jornal “O Globo”.

Começou a carreira em 1947, no “Jornal dos Sports”. Publicou dois livros e foi um dos artistas mais criativos e influentes da sua época.

Em 2005, eu editava o “Cartoon” - jornalzinho de humor criado com o fim do“Pasquim” - e junto com Jaguar (O Dia), Ykenga (O Povo), Ferreth (Extra) e Leonardo (Extra), fui entrevistar o mestre.

Otélo nos recebeu no Degrau, um dos seus bares preferidos. A poucas quadras de sua casa. Os outros bares eram o Bracarense, o Clipper e o Bar Senegal.

Todos no Leblon, bairro onde morava e de onde não saía há mais de vinte anos.

Destaco alguns trechos que, por edição e falta de espaço, ficaram de fora da entrevista:
Certa época - dizia - inventei que o técnico Feola dormia durante os jogos e Havelange contratara um garoto para ficar soltando foguetes perto do ‘gordo’, a fim de mantê-lo acordado. Durante a partida, muitos torcedores olhavam o túnel onde o técnico ficava para ver se o doce Feola estava dormindo mesmo.”

Era vingativo:
“Ainda rapaz, arrisquei  a carreira de jogador no aspirante do Flamengo, mas fui barrado pelo técnico Flávio Costa. Fiquei revoltado. Depois, por vingança, esculhambei com a profissão dele. Mas eu era ruim mesmo”.

Tinha amigos inteligentes e engraçados:
"Don Rossé Cavaca era um dos mais engraçados da nossa turma. Dizem que na ausência de Carlos Lacerda, dono do jornal, Cavaca, do alto de seus 1,87m, magérrimo, subia numa mesa da redação da "Tribuna da Imprensa" de cuecas e enrolado num pano branco e, imitando Gandhi, proferia discursos que provocavam risos em todos os jornalistas".

Otélo bebia muito. Vivia constantemente de ressaca. Aliás, o cartunista tinha uma excelente e “infalível” receita para curá-las: rezar para o tempo passar. “Qualquer dia o homem descobre a cura para a Aids, mas ressaca é uma punição. Não tem jeito, só o tempo resolve. Nestas horas, além de rezar, é bom estar perto da mulher amada. Não acaba com o problema, mas, pelo menos, alivia - dizia.”

Além de bebedor era um grande frasista. É dele as célebres frases e termos futebolísticos como: "Rei do Futebol", “Manto sagrado”, “Montinho artilheiro”, “Todo campeonato tem um campeão moral”, “Pênalti não é coisa que se perca”, “A torcida do Botafogo cabe numa Kombi”, “Coração de torcedor não bate. Apanha” e, claro, “Zico: joia de família do Flamengo”. Mas a frase mais célebre, sem dúvida é: “Brasileiro que não entende de futebol já nasceu morto”.


O cartunista também criou a expressão "Rei Pelé".

"Tinha visto um filme do Victor Mature, "O Rei do Futebol", sobre futebol americano, rugby. Aí lancei o Zizinho como Rei do Futebol, mas não colou. Quando fiz o Pelé, pegou na hora, porque ele realmente era o Rei. Mas Pelé diz que foi a imprensa francesa, dá mais moral.” - dizia.

Otélo era querido por todos. Chico Caruso, parceiro de copo e de profissão definiu o cartunista: “Otelo, o verdadeiro grande Otelo (1,80m) é um carioca leblonense fundamentalista, uma espécie de Aiatolá da folia e bom de papo, que costuma dar aula particular aos amigos no Bracarense das 14 às 16 horas, com entrada franca. Um observador privilegiado do futebol e da vida, do tempo em que ambos eram risonhos e francos.”

Otélo Caçador faleceu em 2006, no Rio de Janeiro, com 80 anos.

*Ediel é jornalista e cartunista.




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