por Ediel Ribeiro
Rio - Eu tinha doze anos quando fui, com minha mãe, morar
na Paraíba.
Perto da minha casa morava um senhor de
aproximadamente 78 anos. Ele tinha o rosto desenhado por fortes marcas de
expressão e um olho de vidro. Meus amigos morriam de medo dele.
Eu não! Gostava dele.
Ele era um homem alto, magro e muito culto. Tinha
perdido o olho na guerra.
Eu ia pra casa dele e nós passávamos as tardes
conversando, lendo – ele tinha muitos livros - vendo filmes em preto e branco e
comendo os deliciosos biscoitos que a esposa dele – uma senhora muito branca e
simpática - fazia.
Foi com seu Heitor que aprendi a gostar de cinema.
Quando voltei para o Rio, em 1973, passei a
frequentar as matinês dos cinemas. Via de tudo: Hércules, Sansão, A Paixão de
Cristo, O Gordo e o Magro, e os clássicos do Velho Oeste com as trilhas sonoras
geniais de Ennio Morricone.
Algum tempo depois, conheci na Praia do Flamengo,
uma garota chamada Wine. Muito louca. Fazia Faculdade de Enologia – estudo do
vinho -, no Rio Grande do Sul.
Fomos tomar uns chopps no Lamas. Dalí ela me levou
pra conhecer o Cine Paissandu, um famoso cinema que ficava ali perto, na Rua
Senador Vergueiro.
O Paissandu exibia, com o atraso da época - que chegava
a ser de um a dois anos - os filmes de vanguarda, especialmente os filmes
franceses que não costumavam ser exibidos em circuito comercial.
O Paissandu não era apenas uma pequena sala de
projeção. Com a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), durante Ditadura
Militar, os jovens se reuniam lá para discutir sobre cinema novo, cinema da
nouvelle vague, e de vanguarda europeu, política, história, cultura, artes etc.
No Paissandu eu assisti “Le vieux fusil” (no Brasil, O Velho Fuzil) - e me encantei com a
beleza de Romy Schneider. Um filme teuto-francês de 1975 dirigido por Robert Enrico.
O filme é baseado no Massacre de Oradour-sur-Glane, uma aldeia francesa,
dizimada pelos alemães, em 1944.
Vi, também, o seminal “Hiroshima Mon Amour”, de Alain Resnais. um filme que tem uma
complexidade que quebrava todos os dogmas e clichês que a gente tinha naquele
momento, em relação à traição, à Segunda Guerra e o amor.
Outro filme que deslumbrou a minha geração e a
geração Paissandu foi “Acossado”,
que o mestre da Nouvelle Vague Jean-Luc Godard realizou em 1960, com roteiro de
Fraçois Truffaut.
Outros filmes que fizeram parte da minha
adolescência e moldaram minha formação foram os filmes que apresentaram o moderno
cinema brasileiro à minha geração como “Deus
e o Diabo na Terra do Sol” (1963), de Glauber Rocha, “O Bandido da Luz Vermelha”
(1968), de Rogério Sganzerla, “O Assalto ao Trem Pagador” (1962), de Roberto
Farias e Luis Carlos Barreto e “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia” (1978), de Hector
Babenco e José Louzeiro.
O cinema feito sob a pressão e o calor dos “anos de chumbo” era mais rico – assim como a música.
* Ediel Ribeiro é jornalista e escritor
foto divulgação
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