segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O PREFÁCIO DO HENFIL E O MEU

por Ediel

Estou terminando meu livro e vou convidar para escrever o prefácio um cara que eu admiro muito. Um cara que, na minha opinião, é o melhor cartunista do Brasil.

Espero que ele me dê a honra de participar do meu livro.

Escrevendo isso, lembrei de uma história que o Henfil contou sobre a saga que enfrentou para conseguir um prefácio para seu livro “Hiroshima, Meu Humor”.

Espero que meu sofrimento seja menor.

Henfil: “Eu me arrependo de não ter ido na casa do Millôr dar uma esculhambação nele, quando vim pro Rio, em 1965, pedir pra ele fazer o prefácio do meu livro”. Vou contar essa história: Eu fiz um livro e então pensei assim: “Pô o cara que eu mais admiro, o cara que acho mais sensacional de todos, muito mais íntegro do que o Paulo Garcez, é o Millôr Fernandes. Vou pedir a ele pra fazer o prefácio”.

Nego fez subscrição pública lá em Belo Horizonte pra me arrumar dinheiro pra passagem.
Fui pra porta da Igreja São José: “Ajude Henfil a ir para o Rio de Janeiro pegar o prefácio do Millôr.” Então, arrumei a passagem.

Amigos foram me levar na Estação Central, uma farra!

Cheguei no Rio, fui na casa do Ziraldo. O Ziraldo falou assim: “Deixa que eu vou lá.” O Millôr falou com o Ziraldo que não dava pé. O ser humano é inviável. Deu uma esculhambação no Ziraldo por ter feito aquilo. O Ziraldo me falou.

Eu ia ficar três dias no Rio, pra transar com o Millôr, pra ele ter tempo de escrever, de conversar comigo. Aí, eu não vi o Millôr.

Eu fiquei tão frustrado com aquele negócio... E eu não podia voltar pra Belo Horizonte, porque tava todo mundo me esperando chegar com o prefácio.

A viagem de volta já estava marcada e eu só pensava neles me esperando com o prefácio original do Millôr.

Lá em Belo Horizonte, os meus amigos, o Laércio, o Cajú, o Paulo César, o Bebeto, o Rogêdo; todos me esperando.

Eu não podia voltar. Isso foi num sábado e eu tinha que voltar no domingo. Então fui pra praia. Fiquei tão chateado que dormi na praia. Tive insolação, fui socorrido por salva-vidas, tive que ir pro Souza Aguiar.

Aí, saí. Não tinha dinheiro pra ficar no Rio. O Ziraldo ficava me esculhambando: “ Ô mineiro, vai de taxi!” e eu só tinha a passagem de volta. Tive que ficar no Rio, dormindo em bancos de jardim, esperando pra voltar pra BH.

Mas cheguei com o prefácio do Millôr!

Cheguei com o prefácio do Millôr, de um livro de um cara que o Millôr tinha feito. Eu arranquei, bati à máquina o prefácio como se fosse para o meu. Troquei o nome e todo mundo ficou feliz.

Isso é o que eu sofri. 

Para que os humoristas novos saibam o que espera por eles.

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